Nota pública do COREP sobre o Boicote!!

Nota pública
Boicotamos o ENADE

Viemos nessa nota declarar à opinião pública que o resultado apresentado por essas Universidades não foi uma nota refente aos nossos erros e acertos na prova, mas sim devido a um posicionamento político.
Isto é, não realizamos o ENADE porque não concordamos com essa avaliação e não a legitimaremos, pois
realizá-la significaria negligenciar nossa formação, coadunar com um projeto de educação que não é o nosso.
Dessa forma, entendemos o ENADE como parte de um projeto global para a educação. É uma forma de aplicar as políticas neoliberais dentro dessa área social, colocando como centro a mercantilização do ensino e o ranqueamento dos centros educacionais. Está dentro da Reforma Universitária, a qual consiste em um conjunto de leis que aplicam este projeto neoliberal, que prioriza o ensino privado, permite a entrada da iniciativa privada nas universidades públicas, precariza o ensino, com projetos como o ensino a distância e/ou o aumento da relação aluno/professor, entre outros, todos formas de desresponsabilizar o Estado e na prática, retirar o direito constitucional do acesso à educação pública de qualidade.
O ENADE é uma prova obrigatória a todos os alunos que cursem o primeiro e último ano. Estes estudantes não podem deixar de comparecer à prova, caso contrário não podem retirar seu diploma. A obrigatoriedade da prova demonstra uma lógica de avaliação que não é construtiva, pois não leva em conta as divergências em relação à ela e portanto não avalia de fato a diversidade dentro das universidades.
O ENADE compõe o SINAES, que seria a forma de avaliação das Universidades. Mas, na realidade, o centro da avaliação está no indivíduo, não na Instituição. Isto permite que sejam bem colocadas Universidades que não possuem estrutura física suficiente, que não possuem bibliotecas, etc., ou que não possuem um corpo docente de qualidade, bem pago, etc.
Outro aspecto dessa avaliação é que ela é igual para o Brasil inteiro, ou seja, ignora as diferenças culturais
e sociais dentro de nosso país continental.
A aplicação dessa prova coloca uma lógica de ranqueamento entre as Universidades, pois divulga as colocações de cada instituição, permitindo que haja uma disputa entre as faculdades por melhor colocação no mercado. Com isso, muitas priorizam a aprendizagem do conteúdo do ENADE em detrimento da apreensão do conteúdo da formação do curso. Assim, muitas universidades liberam os alunos das aulas
comuns para realizarem um cursinho preparatório para o ENADE. O que demonstra mais uma vez que o ENADE não avalia a realidade.
Muitas universidades também realizam festas e churrascos gratuitos para os alunos selecionados, bem como oferecem notas a mais, comprovando mais uma vez a incoerência dos resultados em relação à realidade cotidiana dos estudantes.
Tais atitudes provam que o ENADE interessa a alguém, que não aos estudantes e à sociedade; interessa aos que promovem essas festas, para obterem mais números para as suas propagandas.
Fica claro que o ENADE coloca uma lógica de ensino que desresponsabiliza o Estado. Isto se apresenta concretamente nas medidas tomadas em relação às universidades que obtém baixo conceito. No caso das públicas, ao invés do Estado se voltar mais para elas, que demonstraram maiores necessidades, ele firma um acordo que cria um compromisso de melhora da situação sob risco de corte de verbas, caso o acordo não seja cumprido. Isto é, o Estado aparece como vigilante e não como promotor do direito universal à educação.
Com tudo isso, com o ENADE interessando a alguns e prejudicando à maioria, houve muitos casos de repressão em relação as manifestações contrárias a esta prova. Este é o motivo que leva a muitas faculdades não terem realizado o boicote, mas também virem por meio desta expressarem seu desacordo. Em muitos centros, diretores e coordenadores passaram em sala reivindicando o ENADE e apresentando falácias quanto ao boicote. Outras não liberaram espaço para a realização de debates, não permitiram panfletagens e fizeram terrorismo psicológico sobre os estudantes que protagonizaram as manifestações. Apresentaram falsas e/ou duvidosas consequências do boicote. Tudo isso dificultou a construção deste ato político em muito locais. Mas, mesmo realizando a prova, muitos estudantes descordam globalmente de sua aplicação.
Portanto, estamos aqui para manifestar a nossa luta em defesa do Ensino público, de qualidade, gratuito e
para todos! Estamos aqui para apresentar a concepção de Universidade à serviço da sociedade! Estamos aqui para colocar que o ENADE vai de encontro a esses interesses e por isso o boicotamos!

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